O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, em sua origem, objetivava avaliar o produto final da Educação Básica no Brasil. Com o passar dos anos, ao se tornar gradativamente um processo de ingresso para a Educação Superior, exigiu de toda a comunidade que sofre sua influência, escolas, professores, alunos, familiares…, o aprendizado de uma nova atitude diante de processos seletivos, pois, como uma das mudanças mais impactantes promovidas pelo ENEM, surge o SISU – Sistema de Seleção Unificada.
Por um lado, o SISU favorece àqueles que pretendem se candidatar aos diversos pólos de Educação Superior em todo o território nacional, pois, como é um processo totalmente informatizado, não exige o deslocamento do candidato para o local de seu interesse. Com isso, economiza-se tempo, dinheiro e o desgaste natural provocado por submeter-se a vários processos seletivos. O SISU possibilita a opção em até dois cursos de interesse do candidato que, através de boletins divulgados pelo sistema, poderá gerenciar sua condição de ingresso no curso pleiteado. Percebendo a impossibilidade de ingresso, poderá, durante o processo, alterar suas opções.
Por outro lado, os desafios desse novo modelo são muitos e exigem da sociedade envolvida mudanças de paradigmas. A nossa abordagem estará voltada para os aprendizados que os alunos e seus familiares precisarão construir, ao lidarem com o novo modelo de ingresso nas Instituições de Ensino Superior- IES. Ao realizar as provas do ENEM, o aluno não estará prestando um vestibular. Pelo menos, não naquele formato conhecido por professores e familiares.
Ao realizar as provas do ENEM, o aluno construirá um escore que será disponibilizado em data previamente divulgada pelo órgão responsável pelo processo – INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos. De posse do seu boletim de desempenho, que contém as notas obtidas em cada uma das áreas de conhecimento, o aluno irá para o site do SISU fazer as opções de curso que deseja. Surge a primeira dificuldade: diante de tantas opções, o que escolher? O exercício da escolha não é uma prática comum entre os nossos jovens que, em uma parcela considerável, não experienciaram a frustração como resultado de uma tomada de decisão.
Diante de um processo que exige que faça a opção do curso que deseja para sua formação profissional, o jovem sente dificuldades em abrir mão de outras opções (será que estou fazendo a escolha certa?), ou , ao não conseguir ingresso nas opções desejadas, por não ter alcançado o escore necessário, migra para cursos que não deseja, atendendo ao apelo do “não ficar de fora” ou ainda, “se não entrar é um sinal do meu fracasso”. Nesse contexto, a família precisará, por sua vez, desconstruir alguns dos seus paradigmas, para ajudar no processo seletivo de seu filho.
Como é um processo recente, de 2009 para cá, poucos pais de alunos pré universitários passaram pelo SISU como seleção para o ingresso nas Instituições do Ensino Superior. Querer lidar com o SISU da mesma maneira com que tratou os processos seletivos pelos quais passou pode gerar sérios equívocos, pois o mesmo tem regras muito específicas. Uma delas é a possibilidade de migrar para diversos cursos e áreas, o que o processo para IES pública, via edital, não permite, pois a opção de curso é prévia.
Como proceder diante desse cenário? Atender ao apelo de entrar em uma IES a todo custo ou ponderar as razões que levaram o estudante a optar por um curso que não cogitou? Apoiar na construção de critérios para pautar a opção de curso ou respaldar uma escolha para atender ao chamado social de “não ficar de fora”? Ensinar a lidar com a frustração de não ver-se contemplado em sua opção, ajudando a fortalecê-lo para ir em busca de alcançar sua meta ou colaborar com a atitude de “mascarar” a frustração, aceitando o que não é seu objetivo, para não ter que lidar com a falta?
Muitos são os questionamentos levantados e as possibilidades que o novo formato de ingresso nas IES oferece. Não há uma fórmula para funcionar com êxito diante desse panorama. Há que se estar aberto para conhecer o novo e suas particularidades. Há que se estar atento aos nossos dilemas para não buscarmos as soluções mais fáceis e frágeis em detrimento daquelas que, se bem trabalhadas, poderão fortalecer a nós e aos nossos jovens na busca de seus objetivos.
Autoria: Luciana Oliveira