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Subtema 8º ano 2024

IDENTIDADE CULTURAL E SUSTENTABILIDADE EM SALVADOR – Lazer como prática de liberdade e o seu aspecto constitucional, suas categorias e a própria definição: Investigar as práticas de lazer na cidade no ano de 1989 como reorganização da sociedade, através da construção de uma nova intervenção do lazer em grupos sociais, além de refletir a estratégia de lazer junto aos grupos sociais e populares, traçando uma linha histórica até a atualidade. 

8º anos – Deixem que eu decida a minha vida – Identidade Cultural e sustentabilidade em Salvador

8A – Lazer e esportes em Salvador: como tudo começou?

O lazer é assunto debatido em diferentes segmentos da sociedade, pois pensar o lazer significa entender sua origem, suas relações e de que forma a sociedade entende a prática do lazer. O conceito de lazer passou a ser discutido após a Revolução Industrial. Antes disso, o que havia eram discussões sobre o tempo de ócio, o não trabalho. O lazer só conseguiu espaço a partir do Século XIX, com a mudança de comportamento de toda uma sociedade com relação ao trabalho. Em “nossa terrinha” (Salvador), a prática do lazer e esportes começa com um anseio pela modernidade. O esporte surge como uma prática social que prezava por mudanças de comportamento, construção de hábitos novos e uma melhor relação do homem com a cidade. Para entender melhor esta trajetória, precisamos refletir um pouco sobre como as ações de J. J. Seabra (governador da Bahia de 1912 a 1916) reordenaram o espaço urbano e fizeram com que o soteropolitano adquirisse novos comportamentos em prol desta modernidade. Agora, reflita: Quais as mudanças implementadas a partir de J. J Seabra que impulsionaram o surgimento da prática esportiva e de lazer em Salvador? Quais   esportes passam a ser importantes na cidade?

 LIVROS: 

  • O direito à preguiça de Paul Lafargue (Tradução  de Alain François)                 
  • O que é lazer de Luíz Otávio de Lima

 FILME: 

  • Tempos Modernos

TEXTO MOTIVADOR: 

Uma Salvador e seus esportes iniciais

Coriolano P. da Rocha Junior

Salvador foi capital do Brasil, todavia, no início do séc. XX vivia uma fase de decadência, num cenário em que a Bahia se viu afastada do poder, sem a influência tivera antes. No estado via-se um apelo ao seu passado de “glória” e isso, acontecia pelo fato desta unidade da federação se considerar “injustiçada” no novo cenário nacional, clamando para si a volta de uma época tida como gloriosa.

Para tentar instalar a modernidade, a Bahia, experimentou ações que buscaram reordenar o espaço urbano e os modos de vida dos cidadãos, num conjunto de mudanças socioeconômicas, culturais, estruturais e higienizantes, marcando um novo momento histórico, que buscou tornar a cidade de Salvador um espaço de novas vivências e práticas sociais.

De maneira geral, podemos afirmar que um projeto modernizador se assenta em alguns pontos básicos, que eram: construção e/ou alargamento de novas vias; construção de edifícios de arquitetura imponente e consequente derrubada de antigos prédios; a higienização da cidade; a criação do belo, do apreciável; a instalação de um comércio caro e de padrões europeus.

Foi durante o governo estadual de J.J. Seabra (1912-1916), que Salvador, viveu as ações que tentaram reordenar seu espaço urbano e adequar seus habitantes aos novos comportamentos e posturas da modernidade.

Ao analisar esse período e o quadro da Bahia, Risério (2004, p. 310), assevera que “sua capitalização era fraca, havia a enorme dificuldade de transporte, a carência de energia e, ainda, a hegemonia dos comerciantes, que não se interessavam tanto por investimentos em atividades produtivas”, ou seja, a Bahia destoava dos princípios aventados pela ideia de progresso. Salvador estava presa a uma lógica econômica que se não impedia, certamente limitava as aspirações por um maior crescimento, pelo progresso, não sendo ainda suficientemente “civilizada”, estando, portanto, fora dos padrões propalados pela modernidade carioca.

Nesse quadro, a elite soteropolitana aspirava mudanças e a bem da verdade, o que existia mesmo era uma tentativa de se criar uma cidade moderna e que exultava o progresso.

Leite (1996), ao falar sobre as aspirações modernizantes de Salvador, mostra que se tentava atender “a um interesse comum de certos segmentos elitistas da sociedade local, inconformados com a cidade em que viviam” (p.18). A cidade de Salvador, em sua aventura pela modernidade, teve de conviver com uma clara dificuldade que em muito limitava qualquer aspiração, a fragilidade econômica.

Se em Salvador o pretendido por Seabra e as elites locais na questão de uma nova urbanização não avançou como se esperava, no que é tocante aos hábitos, também parece não ter havido mudança significativa. Salvador sempre se destacou por possuir uma imensa população negra, herança do longo tempo de escravatura no país e que servia de mão de obra nas fazendas e casas grandes de toda a Bahia e de Salvador. No entanto, essa herança envergonhava a cidade, já que para a elite local, os negros, com seus hábitos e modos mais se assemelhavam a bárbaros e eram símbolos de uma cidade que não atingira padrões modernos. Era preciso embranquecer Salvador, acabar ou ao menos jogar para fora da cidade os rituais e práticas dessa população

[….]

Foi nesse cenário e sob essas condições, que em Salvador, se iniciaram as “aventuras” da população com o esporte, sendo esse um dos elementos dessa que se mostrava como uma nova era, a modernidade.

[…]

Dessa forma, compreendemos que a instauração de todo um conjunto de mudanças nas cidades, ao mesmo tempo em que proporcionou e motivou as pessoas à prática esportiva, também foi por este influenciado, ou seja, a noção de que pessoas e cidades deveriam ser ativas, trabalhar por melhorias, valer-se dos avanços científicos, acelerando suas percepções e relações, significou que a modernidade e seu ideário foram encampados, seja pelas obras na nova cidade, seja pelo movimento no novo ser humano. Era preciso engajar-se em todas as mudanças, identificando-se com o novo.

[…]

Disponível em: https://historiadoesporte.wordpress.com/2020/09/15/uma-salvador-e-seus-esportes-iniciais/

MÚSICA:

  • A quadra conecta (MV Bill)

8B – Lazer para quem?

            O direito ao lazer é reconhecido pela Constituição brasileira como um direito humano e deve ser assegurado a todos os cidadãos sem distinção, com o objetivo de construir uma sociedade justa e igualitária. Com o processo de urbanização e modernização da cidade de Salvador no início do século XX, surgem vários espaços públicos e privados para a prática do lazer e do entretenimento. Praças, parques, praias, teatros, museus… Salvador é recheada de possibilidades para o relaxamento e diversão. Antigos ou novos, públicos ou privados, os espaços de lazer da cidade com o maior Carnaval do mundo apesar de diversificados, enfrentam problemas de acesso, principalmente, para a população com baixo poder aquisitivo. A ocupação urbana desordenada e a falta de políticas públicas eficientes construíram em Salvador periferias sem que haja qualquer espaço pensado especificamente para o lazer. As crianças e adolescentes, muitas vezes, precisam usar a criatividade para inventar e construir objetos para seu lazer. Nesta conjuntura, é necessário refletir: Existe diferença entre lazer e entretenimento? Quais são os espaços públicos e privados para a prática do lazer em Salvador? Os espaços existentes são sustentáveis?

LIVROS: 

  • O direito à cidade de Henry Lefebvre                
  • O que é lazer de Luíz Otávio de Lima

FILMES: 

  • Ó Paí, Ó
  • Arte no Espaço (documentário)            

TEXTOS MOTIVADORES:

O lazer na periferia

Iolanda Barros

[…]

Com o advento da industrialização, o homem passou a buscar formas alternativas de se desligar, mesmo que por pouco tempo, da dependência de questões relativas ao trabalho. A urbanização da vida nas grandes cidades fez surgir o fenômeno do lazer, que está disponível de várias formas e para vários tipos de indivíduos ou grupos sociais. Atualmente, o lazer é muito explorado de modo a gerar lucros e diversão, sem qualquer preocupação com o desenvolvimento do ser humano na busca de valores importantes para sua própria sobrevivência e melhoria da qualidade de vida.Esta situação é provocada pela indústria cultural do lazer, porém essa indústria não considera a população dos bairros de baixa renda como público merecedor de lazer e favorecido pela falta de infra-estrutura não investe em serviços e equipamentos que disponibilizem qualquer diversão para essas comunidades. 

A crise econômica crescente, a hierarquização das necessidades humanas e o desgaste do tecido urbano provocam impactos nos momentos de lazer da população. Vale lembrar que as ocasiões de não-trabalho e as instituições organizadas pelos trabalhadores foram muito importantes no forjar de uma autoconsciência social, ocupando no passado relevante papel para as diferentes camadas sociais. Alguns estudos demonstram como os momentos de lazer e as associações de trabalhadores, inclusive clubes, foram fundamentais para a auto constituições da classe operária. Nesse processo de diferenciação social, as possibilidades de lazer estão entre as primeiras negligenciadas para grande parte da população. Basta observar a distribuição geográfica das oportunidades de acesso a bens culturais nas cidades. No caso de Salvador, uma cidade que tem o privilégio de possuir teatros, cinemas, centros comerciais, bibliotecas, porém estes equipamentos, se encontram exatamente, em sua grande maioria, nas zonas que congregam a população de maior poder aquisitivo, ficando os mais pobres, abandonados às áreas mais afastadas, além disso, há um claro processo de privatização, como o caso absurdo de cobrança de entradas até mesmo em exposições e feiras. 

Perceptivelmente a noção de ocupação do espaço público sempre esteve mais voltada para os interesses dos grupos sociais ligados às elites econômicas, o lazer para a indústria cultural do lazer, está diretamente ligado ao capital gerado por classes economicamente atraentes. 

[..]

Disponível em: 

file:///C:/Users/Dell%20Inspiron/Downloads/23-86-1-PB.pdf

MÚSICAS:

  • Tarde em Itapuã (Toquinho e Vinícius de Moraes)
  • São Salvador (Dorival Caymmi)
  • Céu da Bahia (Caetano Veloso)

8C – Ócio e negócio: uma parceria possível?

            A sociedade industrial idolatrava e centralizava todo o tempo e existência do indivíduo na atividade laboral. No Brasil, o ócio já foi muito condenado, pois o trabalho e o acúmulo de riquezas eram exaltados como preponderantes para a felicidade em um mundo capitalista. Pensando nisso, Salvador passou, a partir do século XX, por uma intensa atividade trabalhista para que a cidade se tornasse mais moderna e lucrativa. Isso gerou na população um foco demasiado no trabalho e pouca gerência do tempo para o lazer. Porém, sabe-se, hoje, que lazer, tempo livre e ócio são sinônimos de saúde e qualidade de vida, mas também de lucro e desenvolvimento social. Em uma cidade exaltada pelas belezas naturais e com uma forte identidade cultural, o lazer e o ócio passaram a ser importantes fontes de renda para a população. Neste contexto, algumas perguntas podem surgir: O que é lazer? O que é ócio? O lazer substitui o ócio? Lazer e ócio se misturam?As atividades econômicas ligadas ao lazer são sustentáveis e preservam a natureza e a história da cidade? Como é possível melhorar a saúde e a qualidade de vida da população através das atividades e dos espaços de lazer?

LIVROS: 

  • O ócio criativo de Domenico De Masi
  • O direito à preguiça de Paul Lafargue (Tradução  de Alain François) 
  • O Guia do Ócio

FILME:

  • Ócio, lazer e tempo livre. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SukDA7vRaX8

TEXTO MOTIVADOR:

O trabalho e o ócio

Anselmo Borges

Entre as muitas características que nos distinguem dos outros animais, como a linguagem duplamente articulada, a autoconsciência, o pensamento abstracto, a orientação para o mundo como um todo e a capacidade de distanciamento da imediatidade no espaço e no tempo, a elaboração de teorias científicas, a avaliação segundo juízos morais, está também o trabalho. O homem também se define como homo faber. Karl Marx viu bem: “O homem diferencia-se dos animais a partir do momento em que começa a produzir os seus meios de vida.”

Enquanto o animal colhe o que a natureza lhe oferece, o homem transforma-a. Trabalha para satisfazer as suas necessidades, estabelecendo uma relação de intercâmbio com a natureza: obtém dela o que lhe falta e, por outro lado, ao transformá-la, transforma-se a si mesmo. Mundanizando-se, o homem humaniza o mundo e humaniza-se a si próprio, autorrealiza-se. Ao mesmo tempo que elabora os produtos de que precisa, aperfeiçoa a natureza e forma-se a si mesmo teórica e praticamente.

Com a complexificação do mundo do trabalho, assiste-se à sua divisão e a uma teia, também ela complexa, de relações laborais e sociais, configuradoras da identidade própria. Percebe-se a importância decisiva desta configuração, quando se pensa em quem já não encontra trabalho e cai no desemprego: não só não tem meios de subsistência como é marginalizado, sentindo-se inútil por não contribuir para a realização do bem comum.

No trabalho, é preciso considerar um duplo aspecto. Por um lado, forma a pessoa e contribui para a realização da sociedade – deve-se pensar num sentido abrangente do trabalho: trabalha o agricultor, o construtor, o engenheiro, o médico, o professor, etc. -, mas, por outro, o trabalho apresenta-se como fardo e castigo, como diz a próprio étimo: tripalium, instrumento de tortura.

Neste contexto, aparece o ócio, que provém do latim otium, vinculado a scholê, no grego – é daqui que provém escola. Aqui, ócio significa estar livre dos negócios da política e das actividades económicas, para poder dedicar-se à contemplação, à festa, à alegria e à busca da verdade. Como diz Platão, os filósofos “desfrutam do tempo livre e preparam os seus discursos em paz e em tempo de ócio. Apenas os preocupa alcançar a verdade”. Vemos aqui a síntese da importância que Platão atribuía ao ócio, vinculando-o à liberdade (ter tempo livre e ser livre), à verdade, que deve ser procurada sem a pressão do tempo, e à filosofia enquanto procura livre da verdade.

[…] 

Na modernidade, esbate-se o espírito da verdade como contemplação, para vincular ciência, domínio da natureza e utilidade. Francis Bacon marca essa viragem: “o que é mais útil na prática é ao mesmo tempo o mais verdadeiro na ciência” e: “scientia est propter potentiam” – a ciência é por causa do domínio. E, lentamente, com a segunda revolução industrial, chegou-se ao oxímoro da “indústria do ócio”.

Onde está o predomínio: no trabalho ou no ócio? Como conclui Gabriel Amengual, inspirador deste texto, se se puser o acento no trabalho, então o ócio pode tornar-se um simples meio para o trabalho – descansar para recuperar forças e trabalhar, como se o homem fosse feito apenas para produzir e trabalhar. Se o decisivo for o ócio, então o trabalho acaba por ser considerado negativo e frustrante, pois é puro negócio, negação do ócio, e paradoxalmente, o ócio não passa de “compensação para a frustração do trabalho”.

Disponível em:  https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/o-trabalho-e-o-ocio-1635926.html

MÚSICA: Ócio não é negócio (Vivendo do ócio)

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